Sou professora!....
Esta afirmação reúne uma infinitude de aspetos relacionados com a minha vida e com a de tantos que, como eu, escolheram este caminho. Sou professora na escola, na rua, onde quer que alguém me conheça. Cheguei, com algum atraso, à profissão que desde criança aspirei. Fiz a minha escolaridade na idade adulta e sentei-me, nos bancos da universidade, com meninas 12 anos mais novas do que eu. Adaptei-me e, decorridos mais de 30 anos, continuamos amigas, mesmo ao longe.
Coimbra e as demais cidades onde trabalhei ficaram para trás e regressei em 1996 a uma terra, que era a minha, mas que mal conhecia. Era nova a escola, eram novos os colegas, eram novos os alunos… Lembro-me do 1.º trabalho que fui chamada a fazer, no início de setembro: correção de exames de equivalência à frequência, já não sei se de 9.º ano ou de 11.º. Depois, vieram as reuniões, a distribuição de horários, a preparação das aulas e tudo começou a normalizar. O contacto e interação com as turmas, a simpatia e acolhimento dos colegas, a confiança da direção, a gentileza dos funcionários facilitaram a minha integração e desenvolveram, em mim, este sentimento de pertença que ostento, ainda, hoje em dia.
Depressa, a minha vontade de concorrer às escolas do continente foi desvanecendo e fui assumindo, ano após ano, novas responsabilidades: delegada de grupo, comissão de formação, comissão de exames, coordenadora de departamento, enfim, um pouco de tudo. Nutro um imenso carinho pelos colegas que comigo fizeram equipa e orgulho-me das muitas atividades que concretizamos, no âmbito dos diferentes projetos que integrei e coordenei. O meu grupo disciplinar foi a minha âncora. Tive a enorme vantagem de pertencer a um grupo, onde a partilha, a amizade, a cumplicidade e a interajuda foram e são uma constante. Foi assim que criei ninho. Esta é a minha escola, como carinhosamente digo. Aqui vivi grande parte dos meus dias, ensinei, aprendi e, ainda, aqui vamos.
Ser professor implica nunca estar acomodado. A regra é não saber que regra é. Desculpem o trocadilho. Vi acontecer reformas e contrarreformas, passei, como alguns colegas, dos registos manuais para os virtuais, aprendi a doçura dos teclados de hoje, comparativamente aos tiros secos das velhas máquinas de escrever. Deixei de enviar cartas, quem diria! A Internet torna o longe, perto; dá dicas, guarda os nossos ficheiros, os nossos segredos, que deixam de ser só nossos.
Reconheço que tive, desde cedo, interesse por estes meios, enquanto facilitadores das minhas tarefas, como docente, mas também da minha vida do dia a dia. Contudo, não chego aos calcanhares dos nossos meninos, que já vêm formatados para este banho de tecnologia, que evolui a uma velocidade incrível. Quando a ordem foi para ficar em casa, sem aviso prévio, no início da pandemia, senti de novo a urgência de saber como chegar aos alunos, como contribuir para a sua aprendizagem, como motivá-los, como?…. A escola, prontamente, facultou, através dos colegas de informática, tutoriais e formações que contribuíram para a utilização eficaz das ferramentas ao dispor. Servi-me, também, de todo um manancial de vídeos e de formações disponíveis nas diferentes plataformas, de modo a capacitar-me para providenciar, aos alunos, todos os elementos necessários à sua motivação e aprendizagem.
Estes anos da pandemia esconderam os sorrisos, mas ao invés, os olhos riram mais, os ouvidos ouviram melhor. Os abraços foram evitados, porém os cotovelos proporcionaram cumprimentos seguros e amistosos. Atividades foram suprimidas ou interditadas, mas, na volta, tiveram mais sabor. A Festa do Desporto escolar 2022, primeira após a pandemia, dedicou a abertura ao professor. Tive a honra de representar os colegas da nossa escola. A chama que iluminou a noite da cidade, foi a mesma que passou de mão em mão, de professor a professor, por toda a ilha. Esta chama simboliza a força que nutre e dá razão à nossa missão. Homenagear o professor é homenagear o aluno. Os dois implicam-se. A mesma missão, o mesmo caminho.