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Sérgio Magno

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Boas memórias

Qual a sala onde, entre 1986 e 1991, passei mais tempo na altura denominada Escola Preparatória Bispo D. Manuel Ferreira Cabral? Não foi numa sala de Português ou de Matemática… Confesso que foi na sala de convívio do primeiro pavilhão, sobretudo a jogar ping-pong. Com colegas e com professores, no estilo ‘quem perde sai’. Era uma boa forma de preencher as manhãs, já que era habitual chegar, de São Jorge, muito antes das aulas começarem, uma consequência de as camionetas terem de fazer dois turnos – tínhamos de chegar cedo para a camioneta ter tempo para ir buscar outros colegas espalhados pelo concelho. Tinha colegas que vinham de tão longe quanto Boaventura! E era nas camionetas que começava o convívio, que se prolongava pelo percurso de e para a Escola. Um percurso longo nos primeiros anos já que as camionetas nos apanhavam e nos largavam na Câmara Municipal – sim, tínhamos de fazer o caminho entre a câmara e a escola à pé, porque na altura a estrada estreita não permitia a passagem de veículos maiores, como os autocarros. Infelizmente para nós, em Santana sempre choveu muito, mas quando se tem 10 ou 11 anos e estamos entre amigos, até a chuva pode ser divertida. De facto, era uma Escola diferente da atual, mas que estava em constante evolução.

Vivi a inauguração do pavilhão gimnodesportivo, que mudou por completo as aulas de Educação Física – já não tínhamos de ficar presos numa sala quando chovia a potes – e a chegada de uma nova estrada (e das camionetas) à Escola.

Recordo-me de um Presidente do Conselho Diretivo, o Padre Isidro, que impunha respeito só com a presença e que defendia a instituição que ajudou a nascer com ‘unhas e dentes’. Só bastava o “Sr. Diretor “aparecer para que as corridas malucas que fazíamos pelas escadas e corredores se transformassem em procissões ordeiras. Ninguém se atrevia a levantar a voz, pisar a relva ou dizer algo menos próprio na presença do ‘bom gigante’. Sim, porque depois de ter aulas de Português com o que todos consideravam o temível Presidente do Conselho Diretivo, percebi como se dedicava aos alunos. Uma dedicação que contagiava todo o corpo docente. Claro que há sempre aqueles professores que, por uma razão ou por outra, nos marcaram mais. Como a Prof. Maria José do Inglês, que se tornou amiga de todos na turma e que, desde o primeiro dia, só aceitava que se falasse em inglês na aula – o que significava recorrer muito a gestos e expressões nas primeiras semanas. Ou do Prof. Dionísio, sempre muito calmo, mas que nos ponha a transpirar como ninguém… Também me recordo de muitas traquinices. Muitas delas que aconteciam – e imagino que ainda aconteçam – nas traseiras do último pavilhão. Das fugas pela rede junto ao campo para passeios não autorizados, da forma como enchemos o casaco de um professor, acabadinho de chegar de Lisboa, de caracóis (apesar de viver no continente desde 1991, ainda não consigo comer esses bichos), de como gritávamos “Pupitre” pelas costas do nosso Prof. de Francês… E de outras diabruras que não convém partilhar para não incriminar ninguém…

Foram cinco anos muito intensos, ou não fosse a adolescência um período fundamental para a construção da nossa personalidade. Anos em que foram criadas e reforçadas as maiores amizades e que despertaram o meu interesse pela ciência e por o que passa no mundo.

De repente, fiquei com vontade de jogar ping-pong.

Súmula Curricular

O gosto pela tecnologia levou-me a tirar o curso de Engenharia Mecânica e a entrar no jornalismo especializado em tecnologia aos 18 anos. Cheguei à Exame Informática em 2012 para o cargo de chefe de redação e tornei-me diretor da revista em 2020. Sou coautor e apresentador do programa Exame Informática TV, na SIC Notícias, e autor habitual de artigos sobre ciência tecnologia em diferentes publicações, com destaque para o Visão. Com livros publicados nas áreas da fotografia e da informática, sou também formador especializado em multimédia, cibersegurança e 3D.

Atualmente sigo com particular atenção os setores da sustentabilidade, Inteligência Artificial e mobilidade elétrica.