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Padre Rui Gouveia

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Testemunho

A primeira imagem que me vem à memória quando falamos da Escola B.+S. Bispo D. Manuel Ferreira Cabral em Santana faz-me esboçar um sorriso, porque vejo um bando de adolescentes bastante plural, com alguma irreverencia e uma vontade extravagante de experimentar a vida.

Habitei este espaço e foi a minha segunda casa durante cinco anos intensos porque, entre a segunda-feira e sábado das semanas letivas, passava aqui grande parte do meu tempo. Foi já no milénio passado, creio que entre os anos 1986 e 1991 e, não obstante parecer cronologicamente longe, está bem presente na minha atual estrutura humana.

Foi aqui que tomei gosto pelas ciências. Foi aqui que solidifiquei o sentido da amizade humana. Foi aqui que o desejo de conjugalidade desabrochou. Foi aqui que comecei a sentir a necessidade das virtudes da fortaleza, justiça e autonomia para ser o protagonista principal da minha vida. Foi aqui que aperfeiçoei as minhas habilidades no ténis de mesa, nos intervalos das aulas ou furos do horário. Foi aqui que ao sabor das disciplinas lecionadas sonhei muito com o meu futuro. Muito mesmo! Tive a fase de querer ser cientista, outra de ser arquiteto, também ser informático e, depois, médico. Hoje sou padre!

Lembro-me de vários professores marcantes, entre eles dois padres, professores de Português. Uns pelas melhores razões e outros por menos boas. Hoje, olhando para trás, vejo que todos foram igualmente importantes. Aprendi muito com os primeiros, porque deram-me horizonte, mas os segundos também me mostraram um caminho a não percorrer. Tenho um sentido de profunda gratidão para com aqueles que foram, para nós alunos, exemplo de competência e esforço, inspiração e criatividade, clareza no ensino, justiça e retidão, proximidade e dedicação. Guardo com carinho especial aqueles que acreditaram em mim e no meu valor! Foram vitais para o meu crescimento.

Lembro-me de, já no nono ano, no âmbito da disciplina da Educação Cívica (penso que já não faz parte do plano curricular), irmos ao Funchal, ao Teatro Balthasar Dias, para um concerto de música clássica. Estava repleto de alunos do terceiro ciclo, vindos de toda a ilha. A peça começava com grande parte da orquestra a tocar e depois havia uma flauta de bisel a solo ... aos primeiros compassos a plateia praticamente toda começou a rir, ao ponto de o maestro estrangeiro parar e pedir silencio porque dizia no seu sotaque português nórdico e malfalado: " ... a flauta é um instrumento baixo"! Obedientemente fez-se o dito silêncio, mas o riso não tinha sido irreverência ou menosprezo. Para muitos de nós era uma estreia ver e ouvir uma orquestra ao vivo. O riso foi uma manifestação genuína e espontânea do nosso espanto, a nova e inesquecí­vel experiencia estética que nos estava a ser oferecida. Que harmonia, que beleza! Naquele dia voltei para casa mais rico. Senti-me privilegiado e mais adulto.

Muitas mais coisas me lembro, o deslumbre com muitas matérias ensinadas, as viagens de autocarro entre São Jorge e Santana, as brincadeiras nestas viagens, o ocupar as últimas bancadas, as conversas, as brigas, os estudos apressados antes dos testes, os avisos aos pais dos/das DT, as notas alcançadas ou por alcançar, a troca de ideias das matérias pouco entendidas, as trapalhices ingénuas ou maldosas ou frustrantes próprias da adolescência, os amigos que ficaram até hoje.

Que herança recebi da Escola B.+S. Bispo D. Manuel Ferreira Cabral!

Para sempre grato.

Súmula Curricular

Pe. Rui Gouveia, padre na Diocese de Setúbal. Nasceu na África do Sul, filho de imigrantes originários de São Jorge e Porto Moniz. Frequentou a Escola Primária de São Jorge, a Escola B.+S. Bispo D. Manuel Ferreira Cabral de Santana e o Liceu Jaime Moniz. Sou licenciado em Química Tecnológica pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Completou o Mestrado Integrado em Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa. Frequentou a especialidade em Espiritualidade Bí­blica na Universidad Pontificia Comillas, Madrid. Estudou Teologia Catequética na Universidad de San Damaso, Madrid. Sou atualmente capelão do Externato Frei Luís de Sousa em Almada, Diretor dos Secretariados Diocesanos de Catequese e das Vocações, e Reitor do Seminário Maior de São Paulo de Almada.