Lembro-me de vários professores marcantes, entre eles dois padres, professores de Português. Uns pelas melhores razões
e outros por menos boas. Hoje, olhando para trás, vejo que todos foram igualmente importantes. Aprendi muito com os
primeiros, porque deram-me horizonte, mas os segundos também me mostraram um caminho a não percorrer. Tenho um sentido
de profunda gratidão para com aqueles que foram, para nós alunos, exemplo de competência e esforço, inspiração e
criatividade, clareza no ensino, justiça e retidão, proximidade e dedicação. Guardo com carinho especial aqueles que
acreditaram em mim e no meu valor! Foram vitais para o meu crescimento.
Lembro-me de, já no nono ano, no âmbito da disciplina da Educação Cívica (penso que já não faz parte do plano curricular),
irmos ao Funchal, ao Teatro Balthasar Dias, para um concerto de música clássica. Estava repleto de alunos do terceiro ciclo,
vindos de toda a ilha. A peça começava com grande parte da orquestra a tocar e depois havia uma flauta de bisel a solo ...
aos primeiros compassos a plateia praticamente toda começou a rir, ao ponto de o maestro estrangeiro parar e pedir silencio
porque dizia no seu sotaque português nórdico e malfalado: " ... a flauta é um instrumento baixo"! Obedientemente fez-se
o dito silêncio, mas o riso não tinha sido irreverência ou menosprezo. Para muitos de nós era uma estreia ver e ouvir uma
orquestra ao vivo. O riso foi uma manifestação genuína e espontânea do nosso espanto, a nova e inesquecível experiencia
estética que nos estava a ser oferecida. Que harmonia, que beleza! Naquele dia voltei para casa mais rico. Senti-me
privilegiado e mais adulto.
Muitas mais coisas me lembro, o deslumbre com muitas matérias ensinadas, as viagens de autocarro entre São Jorge e Santana,
as brincadeiras nestas viagens, o ocupar as últimas bancadas, as conversas, as brigas, os estudos apressados antes dos
testes, os avisos aos pais dos/das DT, as notas alcançadas ou por alcançar, a troca de ideias das matérias pouco entendidas,
as trapalhices ingénuas ou maldosas ou frustrantes próprias da adolescência, os amigos que ficaram até hoje.
Que herança recebi da Escola B.+S. Bispo D. Manuel Ferreira Cabral!
Para sempre grato.
Súmula Curricular
Pe. Rui Gouveia, padre na Diocese de Setúbal. Nasceu na África do Sul, filho de imigrantes originários
de São Jorge e Porto Moniz. Frequentou a Escola Primária de São Jorge, a Escola B.+S. Bispo D. Manuel Ferreira Cabral
de Santana e o Liceu Jaime Moniz. Sou licenciado em Química Tecnológica pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Completou o Mestrado Integrado em Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa. Frequentou a
especialidade em Espiritualidade Bíblica na Universidad Pontificia Comillas, Madrid. Estudou Teologia Catequética na
Universidad de San Damaso, Madrid. Sou atualmente capelão do Externato Frei Luís de Sousa em Almada, Diretor dos
Secretariados Diocesanos de Catequese e das Vocações, e Reitor do Seminário Maior de São Paulo de Almada.