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Martinho Freitas

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Testemunho

Falar da Escola B+ S Bispo D. Manuel Ferreira Cabral é relatar uma das mais significativas experiências da minha vida. Vida agreste, de uma dureza normalizada, a escola era para nós um refúgio que se dissipava e ofuscava à medida que o dia terminava.

De volta a casa e ao trabalho “voluntário”, que nos oprimia, mas que entendíamos como necessário, não permitia viver na plenitude o ser criança. Local de todas as experiências, ali aprendia-se a ser homens e mulheres, já que em casa e sobre todos os assuntos imperavam o silêncio motivado pelo desconhecimento e pelo constrangimento de os abordar. Outros tempos. Aprendizagem pela descoberta e pelo empirismo das ações, num contexto onde a mesma se fazia ao sabor de um esforço demasiado para crianças e pré-adolescentes que se suportavam uns nos outros. Em casa vivia-se desconectado da escola.

Há experiências, ali vivenciadas, que se tornaram marcantes, desde logo, a oportunidade de conviver e a ilusão de, através da mesma, podermos dar asas a sonhos e realizações que, à partida, se demonstravam longínquas ou inalcançáveis.

O percurso académico inicia-se em outubro de 1986 e tem o seu término, enquanto aluno, em julho de 1992, concluído o ensino básico.

O regresso, enquanto docente, dá-se em setembro de 2002, uma década após a primeira passagem, e perdura até os dias atuais.

As histórias marcantes aconteceram ao longo dos vários anos; com a dureza do convívio com os alunos mais velhos que, com a sua “autoridade” e presença física, se impunham aos mais novos; com a necessidade absoluta de se aprender coisas novas, empurrados pelas bem sustentadas ilusões alimentadas pelos nossos professores, que fantasiavam sobre mundos novos, em tudo diferente da pequenez e pacatez da realidade vivenciada; com a dureza da moralidade do Diretor da Escola, o saudoso Padre Isidro Rodrigues, verdadeiro homem de ação, de perseverança afincada, que não se intimidava com a dimensão do seu cargo, mas que, de forma sui generis, de coração enorme, resolvia os problemas diários com um pragmatismo, uma sapiência e uma generosidade que bem o caracterizavam.

Foram anos de embrionárias amizades que se cristalizaram pela lenta passagem do tempo e que hoje ainda perduram, anos de intimidades e desavenças que nos moldaram o saber e o caráter e que nos preparou para “sermos os homens do amanhã”.

Martinho Freitas

Súmula Curricular

Licenciado em História, variante de Arqueologia, Ramo Educacional.

Professor do ensino básico e secundário desde 2001.