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Maria Conceição

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A escola de uma vida

É com alegria e alguma emoção que participo nas comemorações dos 40 anos da nossa Escola. A minha ligação a esta Casa remonta ao ano de 1986, em que, como filha de emigrantes em França, regressei à Madeira.

A verdade é que a integração foi muito difícil. Vinha eu de um país onde abundavam autoestradas, cinemas e televisão com vários canais. A minha geração terá com certeza na lembrança como era Santana, na época: estradas em terra batida, a grande maioria da população dedicava-se a agricultura, a RTP Madeira era o único canal existente e iniciava a programação somente à tarde.

Neste quadro, a escola constituía para alguns jovens um escape, que servia de pretexto para não trabalharem com os pais, nas árduas tarefas da então tão rude agricultura, mas para a maioria representava sobretudo um meio que permitia ansiar um futuro melhor. Lembro-me nitidamente de ter receio dos alunos de 9.º ano, pois achava-os gigantescos e adultos. Só mais tarde, soube que havia realmente alunos muito mais velhos, do que seria de esperar, para o 3.º ciclo, pois este grau de ensino não existia em Santana. Então, os jovens aguardaram, alguns anos, em casa, a abertura do famoso “liceu”.

Os anos foram passando e nesta escola adquiri uma formação que me permitiu continuar a estudar, com sucesso. Tratávamos com imenso respeito e educação aqueles que considerávamos os nossos mestres. Livres de telemóveis e tablets os intervalos e feriados eram passados a brincar ou a conviver, deleitando-nos com a erva fresca do chão do atual 4.º pavilhão. Nesses momentos, construí amizades para a vida e vivi momentos hilariantes e inesquecíveis.

A ida para o Funchal era inevitável, pois o secundário, ainda que imprescindível, não existia em Santana.

Levei apenas o tempo de fazer o secundário na Jaime Moniz e o curso na Universidade da Madeira e eis que estou de volta desde o final dos anos 90, agora como docente e com muita alegria para ensinar meninos e meninas que se encontravam sentados nos lugares onde durante alguns anos também sonhei e onde as minhas filhas, mais tarde, também cresceram. Alguns dos meus antigos professores tornaram-se meus colegas e amigos.

Quando estou com os alunos é como se me transformasse noutro eu, encarno um papel, algo teatral, que me faz como que sair de mim própria, sentindo-me “inteiramente” professora.

Como o tempo é implacável, já lá vão 24 anos desde a minha primeira aula, nesta escola. Creio que não há um recanto que não conheça, uma sala onde não tenha memorias e inúmeros rostos que não permaneçam na lembrança…

Invade-me um sentimento profundo de gratidão por todos estes anos. Sinto que faço parte da escola ou é ela que faz parte de mim, já nem sei… só sei que é um lugar onde eu quero estar.