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Gorete Caldeira

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Testemunho

Há muitos madeirenses que associam a palavra “liceu” à Escola Jaime Moniz no Funchal, não obstante, as minhas memórias de “liceu” remontam à Escola Básica e Secundária Bispo D. Manuel Ferreira Cabral, que toda a gente conhece como a secundária de Santana. Uma escola que, embora pequena aos olhos de muitos, na minha perspetiva de miúda franzina de dez anos, a ingressar no 5º ano, era gigante! Uma escola que me viu crescer, não só em tamanho, mas também em saber e na própria maneira de ser e de estar.

Há trinta e dois anos atrás (credo que estou velha!) ingressei nesta escola e frequentei-a durante mais oito, dos dez aos dezoito, fase tão importante no desenvolvimento de qualquer indivíduo, pois abarca diferentes etapas que vão desde a ingénua infância, passando pela rebelde adolescência e quase chega à idade adulta.

Numa altura em que eram poucos os computadores, os trabalhos de grupos ou individuais eram todos feitos à mão, apresentados em cartazes, onde os mais habilidosos na educação visual tentavam fazer umas letras impressas mais jeitosas. Não havia inspirações no “pinterest”, nem plágios de outros trabalhos encontrados na internet. Na verdade, reuníamo-nos na biblioteca, onde se ouviam constantemente “shius” da funcionária que nos mandava calar, sempre que nos entusiasmávamos numa discussão mais acesa. Folheávamos livros e revistas e quando queríamos caprichar um pouco, lá íamos com o senhor Luís tirar fotocópias de umas imagens que a preto e branco eram quase imperceptíveis, mas aos nossos olhos estavam espetaculares. A palavra “criatividade” reinava na escola.

Memórias boas de companheirismo entre colegas, de vender bolos e batata frita na portaria da escola para juntar dinheiro para ir ao Porto Santo, no 9º ano, de pertencer ao clube de teatro. De participar em concursos de decoração de abóboras no Halloween, de organizar exposições, de ir à Expo 98, das dificuldades que todos sentíamos na físico-química, de no primeiro dia não sabermos o significado da disciplina IDES e de acharmos o latim super fácil no 10º ano, mas no 11º… Ui! Complicou!

Recordo com carinho todos os professores desta escola, aqueles que me ensinaram, me acompanharam, me elogiaram, me apoiaram, mas também aqueles que não me compreenderam, que me repreenderam, que me chamaram à atenção. Uns foram sem dúvida mais memoráveis que outros, contudo, com todos eles aprendi alguma coisa, todos eles me ajudaram a crescer, de todos eles trago um pouco comigo. E foi por causa de muitos destes professores, do seu exemplo, que há vinte anos também eu abarco esta profissão. Vinte anos… desculpem-me a repetição, mas quando escrevemos é que temos a noção de como o tempo passa rápido. E um dos indicadores de que o tempo voa é que, curiosamente este ano letivo, a minha filha também iniciará o seu percurso no 2º ciclo na mesma escola, criando as suas próprias recordações. Esperemos que tão boas como as minhas.

Se uma palavra escolhesse para descrever os meus tempos de liceu seria, por certo, saudade. Saudade de uma escola que ainda hoje se ouve falar e bem e que levo para sempre no meu coração e nas minhas “memórias de liceu”!