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Cátia Freitas

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Testemunho

Chamo-me Cátia Freitas, sou natural de Santana, e estudei nesta bonita instituição nos idos anos 80, início dos anos 90. Fiz o ensino secundário no Funchal, e daí, rumei a Coimbra onde me licenciei em ciências farmacêuticas. Exerci como farmacêutica durante vários anos, em farmácia comunitária e na indústria. Mais recentemente, e graças a um (belo!) revés da vida, dei uma oportunidade a uma das minhas grandes paixões. Voltei a estudar e apresento-me agora ilustradora, em início de carreira. Nunca é tarde para se escolher ser feliz (ou mais feliz!).

Aceitar o desafio para testemunhar sobre esta escola, é como entrar numa máquina do tempo e volver quase 30 anos na minha existência. A memória pregou-me uma partida inesperada. Era expectável que viessem à tona tropelias e bons momentos passados com amigos, mas as recordações insistem em trazer-me os professores em primeiro plano.

Assim de rompante, surge-me a professora de inglês, a Zé Aveiro, com toda a sua energia e boa disposição. Recordo a sua frase de abertura de aula: “What's the weather like today?” e a nossa invariável resposta em uníssono: “Today is cloudy and fine!”. O que diz tudo sobre o clima de Santana.

Porém, o que ficou na minha mente, foram os raros dias de sol. Surgem-me fragmentos de imagens. Um deles, muito poderoso, é o da vista majestosa que se podia abarcar da sala de aula de educação visual do segundo pavilhão.

Era uma paisagem que, não raras vezes, me roubava a atenção. E não por a matéria ser enfadonha, já que educação visual sempre foi uma das minhas disciplinas prediletas. Era aquele mar! A imensidão de profundo azul que não sai de mim, por muito distante que esteja. Aliás, toda a minha infância é matizada de verde e azul (ou não fossem as paredes da escola verdes também!).

Recordo com saudade o Reverendo Padre Ramos, meu professor de português. Trazia sempre o semblante feliz e bonacheirão de quem está em paz com o mundo. O desassossego da adolescência, ao invés de perturbá-lo, parecia diverti-lo. Não me lembro de ouvi-lo erguer a voz para impor a ordem na sala de aula. Foi um dos docentes que deixou um cunho indelével na minha vida e educação. Lembro-me que transformou, até aos dias de hoje, a minha perspetiva sobre o emprego das vírgulas!

Há vários outros professores: o Luís de trabalhos manuais, a Noélia, o João Gabriel, a Albertina, a Dalila, a professora Lígia, que tratava a matemática por tu… Talvez seja injusto seguir por esta via, uma vez que não há espaço para enumerar todos os mestres que vincaram a minha educação. Deixo, portanto, o meu agradecimento genérico a todos. E aos “feriados” com que nos brindaram, que eram na época motivo de regozijo! Excluo deste agradecimento outra grande professora, a Ana Pacheco, que jamais nos presenteou com a sua falta de comparência. Devo-lhe, isso sim, um legado de cantigas que ainda hoje sei entoar: “Mon beau sapin” e “La fille aux bas nyllon”.

Claro que a minha memória abarca colegas e amigos, que são quem realmente conta durante a adolescência. São incontáveis os fragmentos de passagens memoráveis. Recordo um episódio hilariante, que nos fez rir até às lágrimas. Houve um grupo de colegas que decidiu, a braços, mudar o lugar de estacionamento do carro de um contínuo menos popular à data. Um agradecimento especial também aos contínuos e à sua inesgotável paciência. O seu papel nas escolas é inestimável.

Recordo a banda sonora da minha adolescência, desde Bon Jovi a Stone Temple Pilots, das “paixonetas” (ou paixoneta, vá!), das primeiras calças à boca de sino, de corar até à raiz dos cabelos, das festas de Natal e de final de ano, da mesa de pingue-pongue do primeiro pavilhão, dos cachorros-quentes do bar…

Guardo vários amigos no coração. A Tânia, a Andreia, minha companheira de sempre, a Rubina, que entrava, invariavelmente, na padaria onde trabalhava o pai, munindo-se de uma bola-de-berlim, para o percurso até à escola!

Quando aceitei este desafio, temi não ter memórias suficientes para completar uma página. Vejo, agora, que podia tecer toda uma novela com os eventos da escola, que marcou a minha existência de forma indelével.

Muitos parabéns à escola Bispo Dom Manuel Ferreira Cabral pelos seus 40 anos tão ricos, e a todos quantos se dedicaram, e continuam a dedicar, para que seja memorável. Um bem-haja a todos!